Faz hoje anos.
Faz hoje anos o meu querido filho: doze anos.
Foi no dia 25 de Abril de 1998, pela 1 hora e 35 minutos.
Era o filho que quis desde sempre.
Esse momento foi, sem qualquer dúvida, a sensação mais indescritível que tive até hoje, e o que veio a seguir, e continua a ser, até ao dia de hoje, ainda mais incompreensível, mas que sei que me acompanha para onde quer que vá ou com quem quer que esteja.
Não sei nem consigo explicar bem o que é; é algo que só posso entender que me supera e que está para além de mim, da minha vontade e do meu querer, e que se tornou no sentimento mais forte que me acompanha, ou me acompanhou, até hoje.
Não é completamente um mistério, mas é quase.
Sei, e sem margens para dúvidas, que é amor, só pode ser.
Porque esse sentimento é a superação da nossa própria existência: é querermos tão bem a alguém mais do que a nós mesmos, e querendo nós tão-somente bem a essa pessoa que, sem olharmos a meios, só nos tornamos felizes fazendo essa pessoa absolutamente feliz, e estando para tanto disposto a fazer todo e qualquer sacrifício, inclusive o da nosso própria vida.
Eu conheço bem esse sentimento.
Se conheço!
Quando o João nasceu recordo que chorou até que depois de limpo e vestido pela enfermeira me foi posto nos braços e chamei pelo nome dele.
Disse-lhe de mansinho: "João, João Marcos, é o pai".
Disse-lhe duas ou três vezes, após o que se calou, atentou para onde vinha o som e revirando os seus olhitos medrosos, mas já vivos e curiosos, pôs-se à escuta.
Decerto, escutou de novo a voz que já o tinha chamado inúmeras vezes, como eu tanto gostava de fazer durante a gravidez da mãe.
Foi naquele momento que percebi que eu já não era mais eu: eu passei a ser dele.
Melhor, eu passei a ser ele, e ele sabe que assim é, porque ele sabe como o chamo quando não pelo seu nome: chamo-o por "amor".
E a partir desse dia todos os dias são dias, é dia, do meu filho, do João Marcos.
Hoje, dia do seu aniversário, é só o dia em que começou a ser assim: o dia, todos os dias, em que é dia do meu João.