Já escrevi poemas para muitas
Já os escrevi a umas e dei-os a outras
Os poemas são para as mulheres
Elas são os meus poemas são para elas escritos
As mulheres sem dúvida são para os poemas
Sem dúvida alguma as musas são os poemas
Sem dúvida alguma os poemas são mulheres.
Já escrevi com e sem inspiração
Já dei poemas a quem merecia e não
Os poemas são mesmo para as mulheres
São mulheres, são poemas e são escritos
Sem dúvida são poemas e são mulheres
Até tenho dúvidas o que os poemas me contam
Mas não tenho dúvidas que os poemas são mulheres.
Naqueles campos e pelas suas leivas
Palhas de fogo percorrendo ondas e ventos
Em seus cabelos de centeio amadurecidos.
Em seus caminhos e destino se fazem campos floridos
São searas de onde nascem passados e vindouros
E seus sorrisos e encantos se perfumam de cheiros.
Duas grutas avisam seus segredos
As suas sombras e as suas histórias nela se guardam
Os seus olhos e a sua fertilidade.
A primavera traz nascença e o sol corre mais longe
O mundo é feito de dias e o amor é feito de estações
Mais ainda hão-de vir os Verões, os Outonos e os Invernos.
Em seu amor lavra e em seu mundo percorre e semeia
Os solstícios são dois e os equinócios outros tantos
O seu chão de corpo, é desejo, é carne e é terra de pão.
És como te conheço
És cor e tela de aguarela
És um doce como te saboreio
És mel e açúcar como a tua pele
És um encanto como me alegras
És dança e feitiço
És uma luz como me despertas
És dia como um sol
És uma noite como adormeço
És lua e estrelas e cometas
És quente como me incendeias
És tição como fogueiras
És paz como me serenas
És céu de madrepérola
És mágica como um ilusionismo
És bela como mil quadros
És viva como vida em mim
És um sonho como tu
És mar como calmaria
És navio à bolina
És uma estação como há-de vir
És tempo como o presente
És alimento aos meus sentidos
És sensual como tu
És a vida como há em mim
És um encontro
És como és
És como não sei
És
És e tu.
Recosto-me no manso duma majestade,
No alto das suas ramadas e seus pináculos
E de agulhas espetadas se apontam direcções e sentidos
Revigoram-se perenes as suas folhas
Recebo em dias cálidos a sua sombra
Recebo em dias frios o seu abraço
Dá-me o seu corpo de castanho e de verde
Tem seiva e vida, tenho-a por amor.
Escrevo nela os contos ainda por ler
Leio as palmas de minhas mãos ainda por escrever.
Do seu macio chão nasceu para meu alimento
No entrelaçado das suas raízes alicerço os meus sonhos.
Os ramos do seu passado fizeram-se para minha lembrança
Foram neles tecidos os dias antes do meu destino
O meu presente ancora-me à sua presença
Em cada dia cada sol cada noite cada lua.
És árvore, és tu, és mulher.
És como te conheço
Fui àquele fonte com a minha sede
Vieste com as primeiras gotas de Outono,
Vieste esperança dum tempo vindouro.
Chegaste chamada de desejo,
Trazias ainda teu perfume de cerejas.
Sou-o no sentimento da distância,
Sinto uma presença de ausência.
Vejo-te na luz que rasga no céu
Tão longe e tão presente.
Abraço sentido que me acolhe,
Regaço que me aconchega.
Perfume teu que me envolve,
Saudades que se me despertam.
Vejo agora dias e noites na tua procura.