Gosto de gente.
Gente que te olha nos olhos.
Gente que se reparte por inteiro.
Gente que entende o valor do simples.
Gente que não complica.
Gente que não tem medo de abraçar sem medida e sem malicia.
Gente com sorriso largo.
Gente de coração acolhedor.
Gente que é sensata.
Gente que reconhece suas limitações.
Gente que saber discernir sem julgar.
Gente sempre disposta a recomeçar.
Eu gosto de gente que não tem medo de ser o que é.
Eu gosto de gente, simples assim!
Há um recanto no espaço entre este arvoredo
Por aqui onde se enrolam e abraçam os ramos
Neste canto há uma vida encoberta, contudo
Aqui mesmo correram vidas, correm dias e correrias
Neste dia e nesta noite há aqui uma luz cantando
A uma só voz são perspectivas se digladiando
Vou neste caminho nesta passagem
Vou nesta vereda nesta desfolhada
O ser é um ter de experiências e contos
Aqui há passados, presentes e vindouros
Uma vida de várias vidas fazendo a sua natureza.
Há aqui um recanto e nele abundam vidas
O sol espreita lá de cima e entre as ameias
Dias não são dias nem são, e
Nem só de pão são feitas as nossas tristezas
Noites não são dias nem de noite, e
Nem só da fartura nem da alegria não
Tenho dias e não tenho, dias são
Tenho o meu canto e me canta e me cansa
Pode até chover e haver dúvidas neste recanto,
Mas seguramente eu juro e não devo, exijo
Há-de haver onde se façam o seu sol e as suas respostas.
Assopro de cordas e músculos
Voz do peito e do pulmão
Voz que brota da batida do coração
Ar de palavras e tons que expira e inspira
Ar que a vida soa e respira.
Fel, amor, sofrimento, revolta e grito
Gutural, sensual, assoprada, compassada, ritmada, com e sem
Acelerada, lenta, melódica, instrumentada, com e sem
Humana de nascimento, inventada e reinventada
Máquinas e instrumentos a embalam em contínua senda.
Companhia de amores e paixões, de povos e nações
Hinos, baladas, batidas, fados, enfados, e sem número
Sina sem limites nem fronteiras, por vozes sem número
Sentimentos, pensamentos e expressões falando em canto
Sinais de Deus fazendo-se ver em-canto.
São poucos, muito poucos neste país.
Essa tão especial e nobre qualidade, ou tão ímpar característica, não se faz por se dizer que o é; não se faz portanto nem por decreto, nem pela força, nem pelo convencimento, e tão-pouco pelo jugo quer da razão ou dos seus argumentos.
Ser-se democrata é um misto e uma reunião muito singular de várias grandes e belas qualidades, contudo nenhumas delas são ordens e também não são servilismos.
É em primeiro lugar um apaixonado de estado de alma.
É pois um misto de romantismo com constante ansiedade de superação, é humildade aliada com carisma, é ter-se o desejo de servir o outro sem pedir ou regatear nada, é saber ouvir e saber ser ouvido simultaneamente, é desprender-se das suas razões em troca do prémio da superioridade das razões dos antagonistas, é ter-se razão por um só momento e nunca saber por dado adquirido.
Ser-se democrata é de certeza uma incerteza, é viver numa dúvida constante.
É de tal modo caminhar assim contraditoriamente a vida na certeza incerta que o mundo continua vivo todos os dias e que os amanhãs nos farão continuar a acreditar que os outros também são parte de nós.
Ser-se democrata é um viver num constante apaixonado diálogo de inquietação com os outros, vivendo a nostalgia de que as nossas verdades se fazem e refazem constantemente todos os dias com as diferenças dos outros, ora aceitando ora discordando, mas e contudo jamais negando o direito das contrapartidas aos outros.
Ser-se democrata é uma súmula e um labor de ideais livres, de liberdades e de procuras intermináveis e solidárias, feitas trocas, aquisições e dádivas.
A democracia é a liberdade de tudo o que começa e recomeça incessantemente todos os dias do indivíduo e do colectivo, ora se fazendo ora se desfazendo na companhia das ideais e das pessoas todas diversas e diferentes
E sempre tomando-nos nós pela certeza de irmãos nesta aventura da vida começada muito antes de nós, desejando nós esperançadamente que jamais termine, mesmo depois de terminarmos.
E talvez no final ser democrata se resuma a uma só palavra ou, quiçá, ainda mais complexa definição: é amor!
Preciso tanto de ti como um leito precisa da água que passa por ele, para juntos se formarem num rio.
Um abraço
Envolve-me nos teus desejos estendidos
Aperta-me o meu ser em minh`alma
Toca teus dedos todos ao redor sagrado
Vem com teu coração ao encontro deste
Dá-me teu querer amizade retribuída
Um gesto vale mais que mil gestos
Um gesto tal sem igual de iguais não há nem há-de
Teu peito toca no meu âmago e ressalto
Vem amigo camarada irmão aqui nos damos
Não há sinal nem espada contra quem
Um abraço é um afago e tem Deus por pai
É nascido antes mesmo do colo de mãe
É leite de peito escorrido em teus lábios criança
É vida e fragor da humanidade e da bondade
Um abraço é paz feita como quem faz amor.
Quanto mais depressa aceitares a metade da imperfeição da tua natureza mais depressa perceberás como o amor te completa com a outra metade que te falta. E é então, e sem que percebas, que tudo passa a ser felicidade.
O caminho para a felicidade é simples.
É uma mera escolha de entre dois caminhos.
Ou dedicar-se a outro até o fazer absolutamente feliz, ou dedicar-se unicamente a si próprio e fazendo dos outros os meios do seu egoísmo.