Parece hoje haver em Portugal um direito de poluir.
A poluição assentou arraiais, está por todo o lado, entra-nos pela casa adentro e cola-se à nossa pele.
Da impunidade até à liberdade de poluir foi um curto passo.
A poluição assume hoje as mais variadas formas, atmosférica, sonora, visual, hídrica, terrestre, térmica ou luminosa.
A poluição contamina, destrói, envenena e mata anualmente milhões de pessoas, organismos, espécies e espécimes.
As falta de respeito, de civismo e educação pela natureza, pelo meio ambiente e pelos outros, apesar das campanhas de sensibilização, informação, educação e legislação ambiental e natural, perpassam num cada vez maior número de atos e autores.
O vizinho que liga a estereofonia em altos brados, a altas horas da noite, a vizinha que martela os saltos altos no pavimento do apartamento. Os consertos de batucada ululante e gritaria esquizofrénica, sob os efeitos do álcool e da droga, ampliados por ensurdecedoras e estridentes colunas, martelando a noite, destruindo o sono, o repouso e a saúde de crianças, trabalhadores, idosos e doentes. O motoqueiro com o tubo de escape livre ruidoso e ensurdecedor. As queimadas a céu aberto de lixos e resíduos. A descarga de químicos, estrumes, óleos ou resíduos negros no meio natural. O arremesso de recipientes, sacos, embalagens, beatas, papéis, plásticos, entulho e os restos de construção civil, sucatas e metais e outros, para os solos, bermas das estradas, cursos de águas e matas, caminhos e florestas. As chaminés industriais expelindo fumos espessos, negros, fétidos, ácidos e irrespiráveis. Os veículos pingando óleos e debitando gases tóxicos. Os veraneantes e os transeuntes conspurcando as praias, os campos, as dunas, os recifes, os rios e os oceanos. Os surfistas e os pescadores jogando ao mar cordas, cordéis, cordames, redes e esferovites. As pecuárias e as explorações industriais de animais empestando o ar e conspurcando as águas e os solos. Etc, etc.
Numa ida ao caixote de lixo vemos que a maioria das pessoas não separa as embalagens, os vidros, as pilhas, os óleos, os papéis e os plásticos e não os coloca nos contentores próprios, ou, como os eletrodomésticos usados, deitam-nos nos baldios, nas florestas, nas ribeiras e nos rios.
Os efeitos desta selvajaria são as alterações climáticas, o aquecimento global, o degelo, a subida do nível dos mares, o envenenamento dos aquíferos, a escassez da água potável, a seca extrema, as florestas ardendo, a extinção da fauna e da flora e dos recursos naturais.
E o Estado, as entidades e os corpos policiais especializados do ambiente e da natureza, muitas vezes, ao invés de vigiarem, cuidarem e sancionarem os delinquentes e criminosos ambientais, assistem cúmplices e cobardemente a este genocídio.
Ainda vamos a tempo de nos salvar?
(artigo do autor, publicado na edição de 30 de Setembro de 2022 do jornal mensário regional "Horizonte" de Avelar, Ansião, Leiria)