A recente morte duma inocente, atingida involuntariamente pela PSP numa perseguição de suspeitos criminosos, deve obrigar-nos a refletir sobre uso das armas pelas forças policiais.
Uma vida humana ceifada não tem preço, nem pagamento, nunca volta, é uma vida atraiçoada, para a qual não há recompensa, meio, ou qualquer forma que a faça voltar à sua condição natural.
O sacrifício de mais uma vítima inocente, atingida por uma bala perdida, de entre mais outras 39 balas que atingiram o veículo onde se fazia transportar, só vem confirmar, infelizmente e uma vez mais, as desastrosas consequências do uso excessivo e desproporcionado dos meios letais de fogo.
Há muitos anos que penso que a GNR e a PSP, no seu serviço ordinário de patrulhamento ordinário, ou comum, a exemplo da política britânica, não deviam transportar ordinariamente consigo quaisquer armas de fogo.
Só excecionalmente, portanto, exigindo-se a sua necessidade, proporcionalidade e adequação ao caso, ou seja, por exemplo, em situações de violenta desordem pública, de resposta e ou de reação, é que o uso das armas podia e devia legalmente ser autorizado.
As armas de fogo jamais deveriam ser entendidas com um meio corrente, ou potencial, de indiscriminado e vulgar acionamento ou utilização, sem que existam, muito fortes, estritos e justificados motivos e razões para o seu uso.
Poderão dizer que as polícias estão obrigadas ao cumprimento dum regulamento do porte, uso e manuseio das armas.
Quase sempre, esmagadoramente, está provado, quando as armas são postas em funcionamento são os inocentes quem jazem ao solo em primeiríssimo lugar e em elevadíssimo número.
Não está em causa, nem sequer estou a ditar uma qualquer condenação, até prova em contrário e condenação judicial para o efeito, dos agentes policiais em causa que deram causa à morte daquela inocente.
Os senhores agentes também são, na maioria das vezes, inocentes e vítimas da violência, quer no modo como lhes são entregues as armas e, especialmente, como nos dias de hoje lhe são atribuídas as difíceis tarefas policiais e de proteção da ordem pública.
Eu não queria, nem quero, nem aceito por nenhum preço, transportar uma qualquer arma comigo!
É tempo de parar, refletirmos, e, imprescindivelmente, encontrarmos os meios de nos pacificarmos e ao mundo inteiro que nos rodeia, e o fim da facilidade do porte das armas seria um princípio!
Basta de tanta mortandade humana, é urgente a paz.
Pela Humanidade as únicas armas permitidas devem passar a ser as forças da razão, da verdade e da solidariedade humanas!
(artigo do autor publicado na edição de 1 de Dezembro de 2017 do jornal mensário regional "Horizonte" de Avelar, Ansião, Leiria - http://www.jhorizonte.com)