Tivemos uma a décima-terceira eleição autárquica após o 25 de abril de 1974.
Nos programas eleitorais, vivendo ainda sob os danosos efeitos da pandemia, apresentaram-nos uma vacuidade de ideias, os lugares-comuns e o mesmo de sempre.
Os problemas e questões do desemprego jovem, a emigração forçada e fuga dos jovens, a desertificação populacional, comercial e industrial, a baixa natalidade, as avassaladoras cargas fiscal e burocrática, os baixos salários e rendimentos, a poluição ambiental e destruição dos recursos naturais, a reabilitação urbana, a recuperação da agricultura, a falta de competitividade e transparência camarárias, entre muitos outros, foram votados ao total esquecimento.
Tomemos o caso da corrupção, que custa por ano aos portugueses 19 mil milhões de euros e, em comparação, a receita do pesado Imposto sobre os Produtos Petrolíferos que rende ao Estado 3,5 mil milhões de euros.
Os autarcas persistem há décadas na falta de transparência e competitividade das empreitadas e dos serviços públicos, persistindo em não tratar do óbvio, ou seja, não atacando e não debelando a avassaladora corrupção.
O portal BASE dos contratos públicos celebrados em Portugal, que está a um clique de todos nós, permite-nos perceber os inúmeros atropelos e violações ao Código dos Contratos Públicos.
Leiam-se as adjudicações diretas até 74 mil e poucos euros, as ligações pessoais e familiares entre os contraentes, os contratos repetidos com os mesmos de sempre e sem concorrência, os altos custos e as derrapagens financeiras, os contratos em cascata, enfim ...fumos habituais da corrupção e do desbaratamento do dinheiro dos contribuintes.
Sem debate, sem esclarecimento e sem úteis propostas alternativas, para a inversão do estado de empobrecimento e subdesenvolvimento, a campanha eleitoral serviu essencialmente o bairrismo, os protagonismos e as vaidades pessoais, o divisionismo e a partidarite, a chicana política e, a novidade, com as redes sociais, a intolerância e o ódio à crítica e aos adversários políticos.
A liberdade e a democracia debilitam-se, no seu lugar a política serve os negócios e os políticos servem-se.
Mas, os eleitores só podem queixar das suas más escolhas, discutindo pessoas e partidos, fulanizando e degradando o debate público, premeiam e fomentam os títeres, a demagogia e a mediocridade.
Esta estupidez já é cultural e parece não ter remédio à vista.
(twitter: @passossergio)
(artigo do autor, publicado na edição de 30 de Setembro de 2021 do jornal mensário regional "Horizonte" de Avelar, Ansião, Leiria)