André Ventura criou uma tempestade na Assembleia da República, a propósito do prazo do novo aeroporto de Lisboa e a sua comparação com velocidade do trabalho dos turcos.
A esquerda partidária mostrou-se escandalizada com a pretensa ofensa aos turcos, proferida naquele que deve ser, por excelência, o lugar em que as liberdades dos cidadãos eleitos se deverão exprimir, ou divulgar as suas ideias e pensamentos, sem impedimentos, censura ou discriminações de qualquer tipo.
Vivemos num país em que está garantida a liberdade de expressão, mas muitos, por mesquinho interesse de domínio político, cultural e social, com muita intolerância e sectarismo radical, não aceitam de todo a liberdade dos outros, nem sequer a diferença no uso linguagem.
Em inúmeros setores e grupos políticos, intelectuais e culturais, a força da agenda internacionalista Woke, LGBTQIAPN+?, relativista, igualitarista e vulgarista, vitimam um cada vez maior número de inteligências.
É fácil conhecê-los na expressão idiota, a mais corrente e patética asneira linguística dos nossos tempos, quando se nos dirigem por “portugueses e portuguesas”.
Os tontos que a usam para destrinçar entre homens e mulheres, deviam ao menos saber que é uma forma sexista e misógina de se dirigirem aos dois géneros, e já não mencionamos aqui os binários, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e demais orientações sexuais e identidades de gênero.
Temos de lhes perguntar, onde é que fica a liberdade?
O “politicamente correto” é uma política que consiste em tornar a linguagem neutra em termos de discriminação e evitar que possa ser ofensiva para certas pessoas ou grupos sociais, como a linguagem e o imaginário racista ou sexista.
Os defensores do "politicamente correto", em tese geral, têm como objetivo tornar a linguagem mais neutra e menos preconceituosa.
Um exemplo do politicamente correto é a substituição do comum "Tribunal Europeu dos Direitos do Homem", pela frase neutra em termos de género de "Tribunal Europeu dos Direitos Humanos".
O cuidado excessivo na busca de eufemismos para designar certos grupos sociais revela a existência de preconceitos arraigados na vida social.
Se assim não fosse, poder-se-ia empregar, sem qualquer problema, por exemplo, o vocábulo negro, sem precisar recorrer à expressão afrodescendente.
Ou, os termos bicha, paneleiro, maricas, que são mais preconceituosos que a designação gay.
Isso é parcialmente verdadeiro, pois os três primeiros estão marcados por pesada conotação negativa.
Na verdade, um termo funciona num discurso e não isoladamente.
Por isso, nem todos os usos do vocábulo negro com valor negativo denotam racismo.
Por exemplo, dizer que há racismo na expressão “nuvens negras no horizonte do país” é um equívoco, porque o sentido conotativo de “situação preocupante”, que aparece no discurso político ou económico, está relacionado à meteorologia, nada tendo a ver com raças ou etnias.
Na verdade, considerar que a palavra exerce sua função independentemente do contexto é afirmar então que as expressões passar em branco todos aqueles anos, ou dar um branco, no sentido de “passar sem ter realizado coisa alguma naqueles anos”, ou “sofrer uma incapacidade de lembrar ou de raciocinar”, são racistas.
Julga-se modernamente, o que é errado, que o uso de uma linguagem não marcada por fortes conotações pejorativas é um meio de diminuir comportamentos preconceituosos ou discriminatórios.
Os defensores da linguagem politicamente correta acreditam que existam termos neutros ou objetivos, mas o que absolutamente não é verdade.
O conceito filosófico do politicamente correto é que ao evitar a utilização destes termos discriminatórios estaremos a trabalhar para uma sociedade mais inclusiva e igualitária.
Mas, estas transformações são impostas de um modo inflexível e sem humor, pela força.
São uma forma abrupta, nem mais nem menos, do que fazer censura e, afinal, um ataque à liberdade de expressão.
Em segundo lugar, os defensores da linguagem politicamente correta acreditam que existam termos neutros ou objetivos, o que absolutamente não é verdade.
Todas as palavras, ensina Mikhail Bakhtin, são assinaladas por uma apreciação social.
O politicamente correto consiste na observação da sociedade e da história em termos maniqueístas, transporta consigo muito hipocrisia, desonestidade intelectual e, em crescendo, ódio e violência intelectual, política e social.
O politicamente correto, nas cabeças desonestas de muitos, representa o bem, e o politicamente incorreto representa o mal.
Mas, o politicamente correto não atende à igualdade de oportunidade alguma no ponto de partida, senão ao igualitarismo nos resultados no ponto de chegada.
O politicamente correto nasceu como consequência da decadência do espírito crítico da identidade coletiva, quer seja esta social e nacional, quer seja religiosa ou étnica.
O politicamente correto é de uso comum entre os intelectuais sem valores, nem consistência ética ou moral, porém como é contagioso, é normal que outras pessoas sejam contaminadas, sem que estejam conscientes disso.
Cada vez mais grupos, grupelhos, guetos, classes, pessoas públicas e privadas reivindicam imunidade contra a crítica.
Experimente chamar um homossexual de maricas, paneleiro, bicha ou qualquer outra expressão similar; você logo será acusado de homofóbico - como se ser homofóbico fosse um crime.
O politicamente correto prepara o terreno de forma ideal para as operações de desinformação e para a expansão da globalização.
Os estragos produzidos pelo politicamente correto consistem fundamentalmente em confundir o bem e com o mal, sob o pretexto de que tudo é matéria opinativa.
O politicamente correto está contaminando a cultura, a atividade social e política, criando uma nova e dissimulada forma de censura.
E uma das principais vítimas é o humor, escrito e o falado.
Ora, humor que pede licença não é humor.
Por causa do politicamente correto, já ninguém mais chama ninguém de corrupto ou ladrão, mas de pessoa com falta de ética.
Uma pessoa politicamente correta considera-se a si mesma tolerante, porém não pratica a tolerância.
O caminho mais adocicado para impor a ditadura moderna e eliminar todo e qualquer tipo de oposição criativa inteligente vem com o politicamente correto.
Mas isto é o neofascismo, começando numa matriz cultural, de molde acrítico e estereotipado, visando intuitos políticos opressores e autoritários, acabando na ditadura, no arbítrio e no assassinato.
Os neofascistas estão de volta, não passam de vulgares criminosos das mais variadas espécies.
(artigo do autor, publicado na edição de 31 de maio de 2024 do jornal mensário regional "Jornal Horizonte" de Avelar, Ansião, Leiria)