O PSD e CDS vieram agora a público, pasme-se, por via da elaboração do Orçamento de Estado para 2012, declarar que querem aumentar contribuição extraordinária que incide sobre pensões milionárias da função pública que se encontrem acima de 5030 euros, passando estas a ser taxadas em 25% na parte que exceda aquele montante.
E ao mesmo tempo, para as pensões que excedam 18 vezes o Indexante de apoios Sociais, cerca de 7545 euros, propõem que a contribuição extraordinária será de 50% sobre a parte que exceda aquele montante.
Os restantes partidos políticos com assento na Assembleia da República, essa casa da vergonha ou da falta dela, calam-se, anuindo ao "laissez faire, laissez aller, laissez passer" que também tanto convém às suas clientelas.
Lido e ouvido isto assaltam-me logo à ideia os mais 3 milhões de pobres em Portugal, as suas mais de 700 mil crianças em situação de fome, subnutrição e privações várias, os crescentes milhares de sem-abrigo, os quase 1 milhão de desempregados, os mais de 1 milhão de idosos com crescentes e graves dificuldade de saúde e morrendo por falta de capacidade para o pagamento dos seus medicamentos vitais de saúde, as dezenas de milhares de famílias em aflição financeira, etc., etc.
No meu íntimo fica-me uma pergunta repetida a pesar: descontos ou taxas sobre as pensões douradas, mas a que títulos?
Mas digam-me lá outra vez, porque eu ainda não conseguir mesmo perceber!
Ou seja, o que eu pergunto é como num Estado falido, parasitário, endividado e deficitário, ainda há quem receba essas escandalosas pensões de luxo, pagas a peso de ouro?
Tem de haver maneira de perguntar aos portugueses se não há quem se insurja contra este abuso dos políticos e em seu favor, ou estaremos perante um completo absurdo?
E não vejo nada nem ninguém a erguer-se contra isto, nem a protestar, nem tão-pouco a indignar-se.
Verifico o silêncio cúmplice dos portugueses perante afronta.
Perante isto tido fico cada vez mais espantado.
Vivemos num país de faz de conta, em que os luxos de uns são pagos com a miséria absoluta de muitos.
Ora, perante a passividade popular generalizada a que assisto, numa coisa eu estou completamente seguro: um povo que suporta este gozo descarado e os abusos deste tamanho escancarado e escandaloso dos seus governantes é decerto um povo ignóbil e reles.
Com o coração a sangrar digo e sinto: tenho vergonha de ser português!