Tudo isto não deixa de ter uma enorme piada e, muitas vezes, nem por isso.
Há uns tempos para cá, com especial enfoque neste ano de 2011, a esquerda política tem vindo a adoptar, um pouco por todo o mundo, uma liturgia semi-religiosa de fim dos tempos e de apocalipse quase-Bíblico e, repetidamente, anuncia que estamos a chegar ao epílogo das civilizações.
Para espalhar a sua mensagem chega até nalguns caso a ilustrar-se em belos PowerPoint, vídeos e argumentos tipo hollywoodescos, tudo para reforçar o quadro e a imagem do horror terrífico do cataclismo desse fim.
É o fim de qualquer coisa, o fim do beco, é o revisitado fim da história de Francis Fukuyma, porventura ainda mais irracionais.
É um fim pregado qualquer, embora na maioria das vezes me pareça mais evidente a sua semelhança à ainda mais conhecida imagem do “fim da macacada”.
Este beco e o seu fim revelam-se, vemo-lo, numa enorme amálgama de difusos e desencontrados sentimentos da desesperança da esquerda que, confrontada já há 20 anos com o fim do comunismo e não conseguindo encontrar alternativas ideológicas, converteu-se agora num acto de fé a um novo mito.
Outras vezes, qual novidade remasterizada de um ícone pop, esta mesma esquerda anuncia o fim do capitalismo, recuperando as idiossincrasias marxistas acerca da necessária e lógica, a seu ver, queda dessa máquina vil de exploração da classe trabalhadora.
Segundo as suas antevisões e premissas o fim da civilização capitalista tornou-se agora de novo uma certeza, como já há mais de um século anunciava a crendice dogmática marxista e comunista, mas agora tornada uma inevitabilidade e uma certeza face à incomensurável crise das dívidas soberanas dos Estados e das respectivas finanças públicas e, finalmente, à impossibilidade humana e técnica da sustentabilidade do modelo económico liberal.
Segunda esta sua nova liturgia, a certeza da autodestruição do capitalismo é assim convertida na profecia do ajuste de contas entre a abençoada razão científica do socialismo marxista, por um lado, e a maldade lógica e inerente às realidades do lucro e dos perversos detentores do capital, os chamados capitalistas, pelo outro.
Na verdade a desregulação da economia financeira e o actual enorme pêndulo especulativo dos mercados bolsistas, movimentando enormes incertezas económicas e quantias ainda mais insofismáveis de dinheiro, aliadas à grave situação económica de um crescente número de países, faz disparar um enorme de dúvidas e angústias existências em milhares de milhões de pessoas.
E a esquerda comunista e os seus afins, vêem nisto, no que se aproveitam e fazem ecoar e ressoar propagandisticamente, a sua sagrada possibilidade de se reencontrarem ideologicamente com as massas populares e proletárias consumistas, qual ressurreição política e ideológica por via e pelo aproveitamento da depressão colectiva do tempo que vivemos.
Contudo, o espectáculo mediático em que tudo isto assenta e que parecem fazer as delícias da esquerda dopada, difundido nas televisões e nos jornais e passando muito pela internet, assume foros de um verdadeiro um exercício colectivo de louco stress global.
A ansiedade colectiva pelo anunciado fim e no enorme absurdo em que se transformou, é hoje um enorme palco global de histerias, boatos, crendices, misticismos, agoiros e superstições.
Neste quadro geral que assistimos, não deixo de pensar no pregador evangélico passava amiúde à minha porta e anunciando a sua mensagem do fim do mundo, a vinda de Jesus Cristo e a criação da Nova Jerusalém, não antes e sempre de me debitar uma angustiante lengalenga da hecatombe ditada pelos cavaleiros do apocalipse, dos terramotos, trovões e outros desastres sobrenaturais, das pragas e finalmente, dos fogos dos infernos como o castigo e punição dos ímpios e dos pecadores.
Ora, eu educado e criado sob a religiosa católica, portanto um crente convicto, não deixava sempre de retorquir aquele deprimido e angustiado pregador que devia antes era sim, e em lugar da sua negra lengalenga, espalhar a mensagem original de Cristo da bondade e do amor terrenos como forma de trazer um novo alento e alegria aos sujeitos mais infortunados e aos mais desalentados.
Até que nunca mais reapareceu o pregador e a minha disposição melhorou.
Ora e é nesta situação mundial em que nos encontramos todos que, contudo sem deixar de reflectir e atentar na situação difícil de muitos milhões de indivíduos e não deixando eu de me sentir material e economicamente um deles, penso antes e ao contrário na imperiosa necessidade de se encontrarem novos modelos e novas esperanças perante as dificuldades e a presente e difícil realidade.
É certo e seguro que só afastando os medos e os miserabilismos, quanto é seguro que só com uma renovada esperança de um futuro melhor, alicerçados na alegria dos novos amanhãs, poderemos então vir a possuir uma realidade económica para então ajudar a todos a superar a actual crise.
A superação da actual situação é certamente bem diferente do malfadado discurso da desgraça e da tragédia eminentes.
Urge, portanto, é por fim à loucura e à depressão do discurso do fim, porquanto o presente momento de crise é apenas um mais como tantos outros, com os quais a civilização humana já se deparou ao longo da sua história e soube sempre superar.
A História não tem mesmo fim, e face às presentes dificuldades o melhor mesmo é encontrarmos novos rumos naturais para um melhor presente e um esperançoso futuro.