Por imperativo moral e de consciência, tenho que deixar este escrito, mesmo que seja longo ou que o entendam maçador.
A força que me impele interiormente a isto me obriga, e só o lerá quem quiser.
Ouvi os discursos de Passos Coelho e Cavaco Silva e não lhes noto nenhuma vontade de chamarem a si a sociedade civil para aberta, livre e democraticamente discutirem com todos os interessados os problemas que afligem Portugal.
O que antevejo, sinceramente, face ao exposto, é que muito provavelmente toda a situação irá deteriorar-se.
Oiço-os única e egoisticamente interessados em salvarem o seu sistema.
Continuam e insistem no discurso gasto e estafado das “reformas”, ou seja, o de mudar o suficiente e o necessário para unicamente manterem de pé o sistema e o regime político e económico dos quais são os únicos beneficiários.
Oiço-os e vejo-os unicamente com o discurso de sempre: mais e mais sacrifícios e mais e mais dificuldades se apresentam para o futuro próximo para o comum dos cidadãos.
Aos portugueses, segundo o que falam e propõem, só lhes resta aceitarem resignados o seu trágico sofrimento.
Nem sequer admitem, demonstrando logicamente não quererem, discutir a abertura do sistema político e representativo ao Povo e chamarem ao diálogo e à discussão públicas aqueles que mais se têm destacado nas intervenções públicas.
Assisti e lamento o discurso meramente formal e protocolar do Presidente da República Cavaco Silva com um discurso hermético e dirigido para as cúpulas e não, como se impunha rigorosa e por imperativo nacional, enviar claros e sinceros convites à sociedade civil para solidariamente tratarmos, todos os portugueses sem excepção, levarem, tanto no melhor como no mais difícil e espinhoso, também, Portugal a um lugar mais fraterno e justo para todos.
A verdade dói, e ela é o imperativo nacional do momento que se impõe e do qual não há fuga possível.
O dever que se impõe a Portugal e a todos os portugueses, para se efectivar uma genuína mudança, é o de olhar de olhos bem abertos a realidade em ordem a determinar e depois corrigir as falhas, os erros, as culpas e, sem menosprezar mas amor à verdade, punir e sancionar penal e economicamente os autores de gravíssimos “assaltos”, desvarios e rombos do erário público.
Ora isto eu não vejo nem assisto.
Mas a realidade é uma força e uma imposição do qual não há eterna fuga possível; mais cedo ou mais tarde ela se imporá, e quanto mais tarde mais dolorosa e violentamente.
A tarefa e as obrigações que se apresentam a breve trecho aos portugueses devem, e são se se quiser o seu sucesso, serem comuns e partilhadas entre todos.
Nunca como antes, o destino que se apresenta é, pode e deve categórica e imperativamente para a salvação de todos nós, ser comum e colectivo.
Ora, e quando face à situação gravíssima em que se encontra Portugal seria razoável e é vivamente aconselhável, por normal e saudável convivência entre todos os portugueses, para não se criarem fracturas sociais e exclusões sociais, antes criando-se sim dinâmicas inclusivas, natural e obrigatoriamente para os que mais sofrem, o discurso necessário do poder político que se impõe é o de enviar mensagens e convites ao diálogo fraternos para e com este mesmo Povo.
Mas, e lamentavelmente ao que assistimos foi, uma vez mais e escandalosamente, a orgia da vaidade da Assembleia da República e dos seus deputados em eleições "palacianas", que mais e mais revolta e indignação causa nas camadas populares.
As forças moderadas e democráticas, se é que ainda existem ou lá o que são, nos partidos políticos ditos do credo democrático dos PSD+PS+CDS, deviam bem tomar nota que é necessariamente urgente abrirem o modelo constitucional e eleitoral do Parlamento às forças e pessoas que ainda querem fazer e efectivar uma mudança pacífica e por meios legais.
Mas ao invés, que é o que ressalta e o que se sente e é o sentimento do povo “na rua", assistimos que essas forças e os Partidos em causa continuam fechadas em si, continuando teimosa e insensivelmente surdos aos graves problemas sociais e económicas que elas próprias criaram.
Com a sua insensibilidade democrática, e a enorme falta de sensibilidade social aqueles partidos estão a deixar escapar o país e o seu povo para a radicalização e para o domínio das correntes e linhas de pensamento político e partidário extremistas, com especial nota para a extrema-esquerda do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista, e os movimentos eles ligados de anarquistas e niilistas que apelam já descaradamente na Internet e publicamente à apologia da radicalização, da violência, da destruição e do caos, e na extrema-direita aos grupos recuperados do Partido Nacional (PNR), ligados a movimentos de skinheads e demais grupos e práticas violentas.
Lamentavelmente as forças ditas democráticas do poder estão a deixar resvalar o povo para um beco sem saída e, com isto, estão a deixar fermentar um “caldo social e humano” de profunda revolta e latente ódio que, não dentro de muito tempo, irá irromper nas ruas e levar o país e uma revolta popular de massas, violenta e de imprevisíveis, mas decerto muito graves e violentas, consequências.
Está a crescer dentro dos portugueses uma raiva e uma revolta enormes e de muito prováveis catastróficas proporções, e que irão conduzir a um violento desastre.
O exemplo da Grécia será recordado como o mero tubo de ensaio e aviso da explosão que veio a dar em Portugal.
Tomem nota disto, não se esqueçam.
Eu pergunto a esses surdos e altivos governantes: quereis salvar Portugal ou, antes como parecem persistir, mergulhá-lo num enormíssimo desastre, em que nos iremos todos atolar num local de vindicta e justiça sanguinárias nas ruas?
Ora, pois, como pode mudar, como pode ter sucesso a dita e anunciada mudança de Portugal, sem mudarem totalmente as práticas, os meios e os costumes a que há muito assistimos nos palcos políticos nacionais?
A mudança dos portugueses tem de ser profunda e radicalmente nas suas vidas, nos seus hábitos e práticas quotidianas, e jamais se compadecendo com meras mudanças de lugares e de actores ou, pior, de vestes.
E se assim não for, se não houver e suceder uma real, efectiva e radical mudança de todos os relevantes meios, elementos e fins em Portugal, no máximo e dentro de um ano o Portugal terá explodido com muitas e gravíssimas consequências para todos nós.
A explosão, antevejo e sinto-o, será de molde a que não “ficará pedra sobre pedra” neste país.
O juízo que se apresenta em Portugal é azedo e encontra-se inquinado, e a sua sentença só poderá por consequência ser a da trágica condenação.
Era e é urgente acordar e mudar dos maus hábitos e da "má-vida" em todos os seus aspectos, e tratar de imediatamente começar um diálogo amplo com todas as pessoas de boa-fé e francamente interessadas em salvar Portugal.
E antes que o país resvale para uma catástrofe.
Antes que país o país mergulhe no abismo.
Às repetidas palavras de Passos Coelho de “mudança” eu lhe digo “Jà” e que seja levada e efeito imediatamente e com todos os portugueses de boa vontade.
Ainda é possível salvar o país, ainda é possível.
Antes que seja tarde demais.
Antes que seja tarde demais!