“Liu Xia, eu quero te dizer, minha querida esposa, o nosso amor foi sempre saboroso, e permanece ainda infinito. Estou a servir a minha sentença numa tangível prisão, enquanto tu me esperas na intangível prisão do coração. O teu amor é a luz do sol que ultrapassa as parede altas e penetra pelas barras de ferro da janela do meu cárcere, tocando todos os milímetros da minha pele, aquecendo todas as células do meu corpo, permitindo guardar-me sempre em paz, abrindo e resplandecendo o meu coração, e acompanhando-me com carinho todos os minutos do meu tempo na prisão. O meu amor por ti, por outro lado, é tão cheio de remorsos e arrependimento que às vezes faz-me esmagar sobre o seu peso. Sou uma insensata pedra do deserto, fustigada pela força do vento e pelo sol torrencial, tão quente que ninguém se atreve a tocar. Mas o meu amor é sólido e aguçado, capaz de atravessar através de qualquer obstáculo. E mesmo que eu seja esmagado em pó, eu usarei as minhas cinzas para te abraçar.” (do texto de Lio Xiaobo, lido na sua ausência, na Cerimónia de 10-12-2010 da sua entrega do Prémio Nobel da Paz)