Perante a abstenção superior a 61% nestas últimas eleições presidenciais, ascendendo a mais de 2/3 os votos de rejeição (somados os votos brancos e nulos), seria o tempo, a oportunidade e a sã consciência políticas que os partidos políticos pensassem profunda e seriamente sobre a reforma do sistema político representativo e eleitoral.
Mas, como bem sabemos, da oligarquia política e do sistema de interesses instalados, dificilmente dali virão céleres ou efetivas reformas profundas e reais deste Regime e estado de coisas.
Mas, o atual sistema político partidocrático, afinal a III República Portuguesa, vivendo já sem a mínima legitimidade eleitoral, em resultado dos crescentes e sucessivos expressivos números da abstenção eleitoral, e o que se percebe à saciedade, não representa mais genuinamente o povo português.
O atual sistema político representativo e partidocrático vigente, limita-se a funcionar para si mesmo, nomeadamente em prol e benefício das castas dos serventuários do Estado, como sejam, de um lado, os funcionários públicos e a oligarquia política e, do outro lado, os subsídio-dependentes, os reformados e subsidiados
A péssima gestão pública e governamental da pandemia do Covid, agravada pelas incúria e incompetência governativa, agudizando a crise económica, social e sanitária, veio acentuar ainda mais a descrença na participação eleitoral.
Aumentados drasticamente o sofrimento e a solidão das populações, acentuam-se as desigualdades económicas de classes, no lugar da classe média cresce o número dos pobres, cada vez mais miseráveis, e aumentando o fosso, cada vez maior, entre aqueles muitos e uns outros poucos, a oligarquia dos cada vez mais ricos.
Os políticos profissionais e instalados no Estado e na “partidarite” são, ou os mesmos, ou mais do mesmo, há já 46 anos, e o grosso dos portugueses sentem que não são ouvidos, nem minimamente respeitados, antes pelo contrário, sofrendo o vexame e o insulto descarados da corrupção, do empobrecimento e da mortandade.
A abstenção eleitoral, caso não seja devidamente considerada e tratada, dando-se melhor solução e voz aos justos anseios e reclamações populares, poderá vir a servir em breve de catalisador para fenómenos antidemocráticos, criando os meios e os instrumentos de demolição dos alicerces da própria Democracia.
Afinal, a culpa até nem morrer solteira, neste caso terá dois autores, ou carrascos do povo português, de um lado os insurgentes extremistas, esquerdistas e ou fascistas, e, do outro lado, o atual Regime político-partidário hipócrita e cínico.
É, assim, a hora do surgimento de uma República de Cidadãos, tomada pelos cidadãos, governada pelos cidadãos e servindo exclusivamente os cidadãos.
(twitter: @passossergio)
(artigo do autor, publicado na edição de 30 de ´Janeiro de 2021 do jornal mensário regional "Horizonte" de Avelar, Ansião, Leiria)