Há um poeta e um regime
Poeta e regime, até há quem o diga,
Ou ao contrário.
Eles estão um para o outro
Ele é um tempo da fome e do povo
E das suas abundâncias deles poeta e do regime
O povo que é povo morre e não canta
O poeta e o regime aumentam a pança
O regime do poeta engorda e colesterol
O regime ao povo oprime, prende e sufoca
O poeta quer ser mandão e não lhe dão.
Foi lá longe ao atlântico declamar a República
Povo já não há, há povo e cidadão
Poetas os há, oiço-os calados e amputados
Há um poeta e há um regime e ressoa
Há um poeta com uma pança a maior
Há um povo com fome e menor
Há palavras não ditas e guardadas no rancor
Eis o povo, o regime e o do poeta
Eis povo o fim para onde caminhas
O poeta canta decerto a história do fim
Há poeta e poeta e quem o queira e que o compre.
Mandam os que lá estão, são mandados os humilhados.
A palavra fá-la ou não o povo
A palavra não se cala e não fala
O sonho vive mesmo com o poeta e o seu regime.